O tempo é implacável para algumas coisas, mas para outras, ele passa bem devagar. E se por um lado a saudade sobre uma banda que arrebentou todos os corações nos anos 90, por outro, é como se nunca tivessem partido.

Mamonas Assassinas – O Filme é uma cinebiografia de uma das bandas mais irreverentes que tivemos, com carisma, canções chicletes, e uma alegria contagiante. E todos esses adjetivos servem para colocar mais pressão ainda em cima de um filme que se propões contar essa história.

Dinho, Sérgio, Samuel, Julio e Bento são garotos típicos da época com pouco dinheiro e muitos sonhos. Eles nem imaginam que o humor debochado e inteligente, tão característico do grupo de amigos, irá mudar suas vidas para sempre. De algumas tentativas fracassadas ao sucesso absoluto, em pouco tempo, eles se tornaram o maior fenômeno musical brasileiro da década: os Mamonas Assassinas.

Elenco majestoso para interpretar personagens estelares

Eu não costumo começar minhas críticas falando do elenco, mas vou abrir uma exceção. Aqui, em Mamonas Assassinas: O filme, a escolha e escalação dos atores fizeram toda a diferença. Os cinco integrantes são muito bem representados, e a semelhança de alguns chega a assustar. O protagonista Ruy Brissac, que interpreta Dinho, é tão parecido, que em alguns momentos chega a parecer inteligência artificial. E digo não somente pela fisionomia, mas pelo comportamento, pela agitação. Assim como Beto Hinoto, que interpreta seu tio Bento, também tem uma semelhança incrível.

Além deles, Robson Lima, que interpreta Júlio Rasec, Rhener Freitas e Adriano Antunes, que interpretam Sérgio e Samuel Reoli consecutivamente, tem uma atuação incrível, e entregam tudo que tem para dar vida aos ídolos.

Ton Prado, que interpreta Enrico Costa, a versão do filme para o Rick Bonadio, também tem um papel muito importante entrega uma atuação muito interessante.

É importante destacar que alguns dos atores fazem parte da nova formação da banda que tem se apresentado pelo Brasil, sendo assim, as cenas da banda tocando são super fidedignas e empolgam.

A difícil tarefa de mostrar em tela um evento meteórico

Todo filme biográfico encontra como primeiro desafio definir qual recorte quer fazer da vida e obra de tal pessoa, banda, ou figura pública. Esse desafio é justificado, porque dependendo da figura, o material pode ser enorme. Mas no caso dos Mamonas Assassinas, escolher esse recorte é ainda mais complicado, porque, existe um pré-mamonas que interessa e muito para a história deles.

Antes da formação do Mamonas ser a que conhecemos, outras duas bandas vieram antes, e tem papel importante na formação do Mamonas. O filme até consegue ilustrar bem essa pré-formação, e alguns caminhos que levaram a entrada de Dinho para a formação, e a criação da banda. E talvez por conta de tempo de tela, muitas partes importantes da história pareceram picotadas, e sem profundidade. O roteiro peca em focar nas situações mais importantes, e gastam um tempo precioso com cenas muito menos importantes, como namoricos e problemas de relacionamentos, que não levam a lugar algum.

E preciso dizer, me parece que o roteiro de Carlos Lombardi erra ao não decidir o que quer mostrar em tela, e ao tentar mostrar um pouco de tudo, entrega muito de quase nada. Em vários momentos o filme mais parece uma série, que precisa apressar o episódio para acabar dentro do tempo certo.

Mamonas Assassinas: O Filme
Mamonas Assassinas: O Filme – Foto: Imagem Filmes

O poucos grandes acertos do roteiro

Um dos poucos, mas que considero o maior acerto do roteiro foi mostrar a importância de Samuel e Sérgio na formação da banda. Esse é o tipo de informação que de fato faz diferença em uma biografia, e aqui é o ápice dessa informação. Muitas pessoas podem não saber todo o trabalho, empenho, frustrações, humilhações e perseverança que os irmãos tiveram que passar para chegar aonde chegaram. Outro grande acerto foi não terem focado na morte dos jovens, mantendo o longa como uma homenagem e uma excelente oportunidade para quem nunca os conheceu, poder finalmente ter uma ideia de como foi viver e experienciar essa época.

Além disso, preciso fazer uma reflexão importante. Ainda que o roteiro não decida o que mostrar, reviver, mesmo que por alguns momentos aquela época, vale muito a pena. Isso porque o filme é musical, então, em vários momentos somos embalados pelas músicas, pelos ritmos, podemos conhecer um pouco da criação das músicas, do nome, do estilo. E isso faz o longa dirigido por Edson Spinello valer muito a pena.

A fotografia do filme também acerta ao mesclar filmagens atuais com cenas gravadas na época, principalmente nos shows, dando assim a dimensão do que era o fenômeno dos Mamonas Assassinas.

Vale a pena assistir nos cinemas?

Mesmo com o roteiro perdido, que não entende que um recorte não precisa abraçar todas as fases da vida de um biografado, o filme é uma ode aos Mamonas Assassinas. A nostalgia é absurda, e a sensação de voltar no tempo é impagável, além claro, de poder ouvir as melhores músicas deles na tela grande. Sim, vale a pena assistir, e vale a pena apreciar, nem que por um momento, o sentimento de fazer parte do legado dos Mamonas Assassinas.

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