Estreia hoje (05) “Um Filme de Cinema” do diretor Thiago B. Mendonça e que tem como premissa o olhar lúdico e inocente das crianças para descrever a magnitude do cinema. Através do olhar sem amarras de uma protagonista criança, podemos acompanhar a história de cinema desde sua concepção até as questões filosóficas envolvidas na criação. Da criatividade até a expressão maior da arte.
Bebel, filha de um diretor de cinema em crise, quer fazer um filme com seus amigos para um projeto escolar. A realização do filme se torna uma grande aventura e leva Bebel, sua família e seus amigos a uma viagem pela história do cinema.
A filha mais velha do personagem resolve fazer, como trabalho na escola, um filme com seus amigos. O pai está em crise criativa, e o processo desse projeto acaba servindo como uma investigação da história do cinema, e, também, uma maneira dele lembrar porque gosta tanto dessa arte.
Thiago Mendonça brinca com nossas emoções ao resgatar uma parte nossa, uma lembrança da nossa infância, onde nosso olhar para a vida era simples e emocionante. Quem nunca quis ser um diretor de cinema quando estava com uma câmera na mão? Quem nunca quis tirar aquela foto legal do natal, ou aquele vídeo divertido do aniversário.
Roteiro tem cuidado em entregar filme para adultos e crianças
Uma das características que mais chamam a atenção no roteiro de Mendonça é o cuidado com a história, para que ela seja simples, objetiva, e didática. Desde as primeiras cenas podemos perceber que a linguagem usada serve tanto para os adultos quanto para as crianças. Uma linguagem simples, de fácil compreensão, que brinca com os sentidos e com as ideias, mostrando que nem tudo é o que parece ser. Um rolo de papel higiênico em um minuto vira faixas para enrolar múmias, ou um morador de rua com um coração gigante, de repente vira um anjo da guarda. Isso só é possível quando o diretor deixa a arte ser fluída e viva.
O longa apresenta uma mistura interessante do gênero documental com ficção, que facilita a introdução do tema para quem eventualmente não conheça a história do cinema. As crianças escolhidas para o filme dão um show de interpretação, principalmente Bebel, que é interpretada por Bebel Mendonça, filha do diretor. Na verdade, as duas filhas do diretor participam, já que Isa Mendonça também interpreta uma criança no filme.
Para mim, a grande sacada da história é mostrar como o cinema é feito por pontos de vistas distintos, a tal ponto de um filme feito por crianças na escola ter um olhar tão profundo que poderia ser um Filme de Cinema. Além disso, em época de filmes tão parecidos, com gêneros tão saturados, é importante mostrar que a arte é muito mais que somente filmes blockbusters. O cinema é vivo, ele é dinâmico, ele é atemporal e não tem idade.
Um Filme de Cinema … de verdade
Essa inversão que ocorre no roteiro, onde o pai que é cineasta está em crise criativa, e a filha, que tem somente sete anos, esbanja criatividade e olhar crítico para com as cenas. E a partir desse olhar, simples e sincero de Bebel, ela consegue extrair histórias profundas de seus entrevistados, ou melhor, de seus “atores”. O recorte escolhido por ela para dar vida ao filme com seus coleguinhas mostra o que cada um acha sobre a vida, sobre seus sonhos, e essa é a maior mensagem do filme, ou melhor, dos filmes.
Esse definitivamente é um filme de cinema, e vale a pena assistir no cinema sim, com todas as crianças da sua família, com os adultos, com os amantes da sétima arte. Por fim, um filme em que brincar de cinema se mostra ser coisa séria.